Clima e acordos comerciais desafiam cronograma da EAF
Seca histórica na Amazônia e indefinições contratuais na rede móvel desafiam cronograma dos compromissos para infovias e rede privativa no DF
A Entidade Administradora da Faixa (EAF), responsável pela execução de obrigações do edital do 5G, entra na reta final de dois projetos estruturantes: as infovias amazônicas e a rede privativa federal. A conclusão das obras tem de acontecer até fevereiro de 2026, prazo estabelecido pelo edital, mas depende agora de condições ambientais e da finalização de negociações com operadoras e o governo federal para acontecer de fato.
De todas as obrigações, a mais avançada é a limpeza da banda C, praticamente concluída, com sobra de recursos, o que levou inclusive a uma ampliação de escopo que será iniciada em julho. Mas nas outras frentes, há dependência de decisões a serem tomadas ou pelo governo, ou por São Pedro.
Seca prolongada atrasa infovias
As infovias do programa Norte Conectado são compostas por cabos ópticos lançados no leito dos rios amazônicos. A etapa 1, que contempla as infovias 2, 3 e 4, está quase finalizada. A infovia 3, entre Macapá e Belém, já foi totalmente lançada, com testes operacionais concluídos. As infovias 2 e 4 têm trechos terrestres e redes metropolitanas em conclusão.
“O clima tem sido um grande desafio desse projeto. Isso era uma coisa que não era nem possível perceber quando foi publicado o edital em 2021. Nos últimos 2 anos, a região teve secas históricas que superaram qualquer seca em 100 anos”, conta Leandro Guerra, CEO da EAF – Siga Antenado.
Diante das dificuldades de navegação e instalação, a EAF avalia alternativas. “Nesse momento, nós estamos estudando até mesmo enterrar o cabo no leito do rio. Isso é uma coisa que nunca foi feita desde que começou o processo do Norte Conectado”, diz.
Ele participa nesta quarta-feira, 28, do Smart Cities Mundi 2025, evento do Tele.Síntese que trata do futuro das cidades e dos serviços entregues ao cidadão.
Infraestrutura terceirizada
Na rede privativa federal, a EAF está implantando redes de fibra óptica em todas as capitais. A estratégia inclui acordos com operadoras e empresas de energia para reduzir o volume de obras civis. “Fizemos um acordo estratégico importante, em praticamente todas as capitais brasileiras, para a utilização dos dutos da V.tal”, comenta. A V.tal é a empresa criada a partir da divisão da Oi, que segregou sua parte de infraestrutura passiva e óptica para uma unidade arrematada por fundos do banco BTG Pactual – dando origem à empresa de rede neutra.
A construção das infovias pela EAF segue dois eixos: anéis metropolitanos e redes de acesso. “A fibra, o cabo, ele é construído praticamente do zero. A gente está lançando cabos novos. O que a gente está usando são infraestruturas passivas existentes, ou seja o duto e o poste”, explica.
Segundo Guerra, ao fim e ao cabo das obras, a rede será totalmente entregue à estatal Telebras. Até agora, mais de 1.500 quilômetros de fibra foram implantados. O prazo contratual para conclusão é fevereiro de 2026.
Rede móvel ainda com indefinições
A rede móvel privativa, prevista para cobrir apenas o Distrito Federal, continua sem cronograma finalizado. A EAF será responsável pela construção do núcleo da rede, enquanto o acesso será viabilizado pelas redes comerciais das operadoras, no modelo SMVNO (MVNO privativa).
“O que a EAF vai implantar vai ser o core da rede, o núcleo, inclusive a parte de billing, a parte de gerência da rede”, conta.
Contudo, há indefinições sobre a remuneração pelo uso da infraestrutura das operadoras. “Existe uma necessidade de negociação entre Telebras, o Ministério das Comunicações, para identificar com as operadoras como utilizar esse modelo de SMVNO, porque há uma remuneração pelo uso dessa rede”, afirma.
Em suma, ainda não se sabe quem vai pagar, nem como, pelo aluguel da rede de acesso móvel, que deverá conectar 5 mil servidores públicos da capital do Brasil. Também não há definição sobre a operação futura. “Provavelmente, durante a implantação, a EAF deve assumir o custo [de manutenção]. Depois, com a entrega da rede, esse OPEX deve ser assumido pela Telebras”, acredita o executivo, em entrevista ao Tele.Síntese.